terça-feira, 5 de julho de 2016

Mulheres viajam, sim, sozinhas!

Comecemos nosso post de hoje com um pequeno vídeo. Assista!



Assistiu? A cena que você acabou de ver faz parte do filme “Sob o Sol da Toscana”, de 2003. Nela, Francis, personagem de Diane Lane, é seguida por homens pelas vielas de Roma, enquanto procurava uma loja de antiguidades. Apenas para esclarecer: no longa, a protagonista é uma escritora americana que decidiu viajar pela Itália após o traumático divórcio. Ao ver o anúncio de uma casa à venda na região de Cortona, decide comprá-la e se mudar para lá. Ah mas, qual o problema? Os italianos são assim mesmo, charmosos e cortejadores, não é verdade?

Pois bem, Francis é uma personagem cinematográfica. Maria Jose Coni e Marina Menegazzo, não. As turistas argentinas foram mortas em março deste ano durante um mochilão pelo Equador, mais precisamente em Montañita, por dois homens que confessaram os assassinatos. O crime levantou calorosos debates a respeito do machismo e da violência contra mulheres, além da exposição das duas como “vítimas em potencial” pois, ao embarcarem “desacompanhadas”, assumiram o risco de sofrer algum tipo de agressão.




Certo mas, qual a relação entre a escritora romântica e as viajantes da vida real? Os riscos (absurdos, diga-se de passagem) que uma mulher corre ao viajar sozinha. No primeiro caso, há o hábito grotesco de romantizar o assédio, tornando-o quase como uma cultura masculina em certos países. Na tragédia envolvendo as jovens, a culpabilização da vítima, algo que já virou rotineiro em casos de violência contra a mulher ou o feminicídio, como se o “certo” fosse que as mulheres se trancassem em suas cidades e só saíssem delas em companhias masculinas.

O que, de fato, também não as resguarda de qualquer agressão. Em dezembro do ano passado, uma turista alemã foi assaltada e estuprada durante um passeio pelas dunas de Jericoacoara, destino cearense conhecido por seus cenários paradisíacos. A moça, que não foi identificada, relatou que, na madrugada do crime, estava acompanhada pelo amigo austríaco que, além de não intimidar o agressor, ainda não conseguiu impedi-lo. Diante disso, podemos afirmar que o problema vai muito além do simples fato de estar, ou não, ao lado de uma presença masculina.

A estudante goianiense Renata Cursino tem o hábito de viajar sozinha ou entre amigas e já passou por momentos muito parecidos ao de Francis. Ela chama a atenção para a ocasião em que, durante uma viagem para Curitiba com uma amiga, ambas foram seguidas durante a noite, na saída de uma boate, por homens que desciam a rua de carro. As duas precisaram se dirigir a uma viatura policial parada em uma praça para se desvencilhar dos assediadores. Situação semelhante ocorreu, novamente, em Florianópolis, desta vez, dentro de uma badalada casa noturna.  

Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal


“Acho que é mais sobre esse estigma atrelado à mulher que viaja sem a companhia masculina de que ela está sempre disponível. E não há o respeito pela mulher e, sim, pela figura masculina, e não a mulher como ser humano”, opina a jovem. Ela reforça que, ao viajar em grupo de amigos que incluem homens, as mesmas situações não ocorrem. Essa impressão foi exposta por Catalina Ruiz Navarro, em sua coluna no El Espectador, na ocasião da tragédia envolvendo Maria e Marina. Ela e milhões de internautas se revoltam com a desigual liberdade de ir e vir entre homens e mulheres.

De acordo com especialistas da área, os destinos mais procurados por viajantes femininas são o litoral brasileiro, América do Sul e Europa. Junto com as indicações de roteiro, vêm as recomendações. Cláudia Portes, consultora de viagens, recomenda o maior número de informações atualizadas sobre a região a ser visitada. Patrícia Freitas, também profissional do Turismo, completa que, independente do gênero, ao viajar sozinho, o turista precisa ser descolado e dominar algum idioma além do nativo, além de evitar países em zonas de conflito ou em períodos de extremismo.

Como profissionais, as dicas. Como mulheres – e mães, a mesma insegurança. Claudia, por exemplo, não embarca sozinha, mesmo em viagens curtas. “Sozinha não, e nem pretendo. Com amigas sim, sem nenhum problema”, afirma ela, categórica. Com relação às filhas, a agente de viagens diz que, infelizmente, sua maior insegurança reside nos destinos nacionais. “Tive oportunidade de minhas filhas viajarem no Brasil e para fora, sempre me preocupei muito mais com elas no Brasil , devido a insegurança”.

Assim como a colega de profissão, Patrícia também não vê problemas em viajar entre amigas, mas, não acha interessante traçar um roteiro solo. No entanto, precisa orientar a filha única em suas viagens. A jovem tem larga experiência em desbravar o mundo sozinha, inclusive vivenciando intercâmbio em continente europeu. Apesar dos temores maternos naturais, a consultora nunca a impediu de seguir seu caminho. “Apoio com o coração apertado, coisas de mãe e, também, porque ela concorda que em alguns países ela não iria sozinha”.   


Apesar de relatos e riscos, infelizmente reais, as mulheres continuam viajando sozinhas. E não poderia ser diferente. Por isso, é tão importante o movimento feminista, que busca o empoderamento das mulheres em suas atividades rotineiras que incluem, obviamente, o direito de viajar. As mulheres não podem, nem devem se resignar mas, do contrario, precisam continuar a mostrar aos homens e ao mundo que não são um alvo fácil. E que a culpa de um assédio, de uma agressão não é, nem nunca será, culpa da vítima.  



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