sábado, 7 de maio de 2016

Bordadeiras bordam o cerrado e transbordam cidadania

Cooperativa Bordana usa panos, linhas e agulhas contra a exclusão social



Foto: Divulgação/ Bordana

Desde 2009, a Cooperativa de Bordadeiras e Produção Artesanal do Cerrado Goiano (Bordana) é referência na inclusão social de mulheres de baixa renda por meio do cooperativismo e da Economia Solidária. Pela produção de peças inspiradas no Cerrado goiano, as cooperadas aprendem uma nova profissão e contribuem para o aumento da renda familiar.
Ao visitar o local logo encontro a Dona Rose, que com muita paciência se propõe a me ensinar o bordado. Apesar das minhas dificuldades enquanto iniciante no assunto, ela me tranquiliza - “Você vai aprender, quando eu cheguei aqui eu também não sabia bordar e hoje estou ensinando.” Esse otimismo está espalhado por todos os cantos do prédio da Associação de Moradores do Conjunto Caiçara, em Goiânia, sede da Cooperativa.

Bordana

A presidente da Bordana, Celma Grace de Oliveira relata ter encontrado no trabalho coletivo uma forma de transformar o desejo da filha Ana Carol em realidade. - “ Minha história é uma história de superação cotidiana, trago minha filha comigo o tempo todo”. A menina, que faleceu aos dez anos de idade, sonhava em ser estilista e ajudar as pessoas. Inspirada nos desenhos dela, Celma fundou o Instituto Ana Carol (IAC) e posteriormente, em 2009, ela propôs a criação da Bordana como uma iniciativa da ONG.
As primeiras reuniões do núcleo pretendiam dar às mulheres condições favoráveis ao aprimoramento das suas habilidades, autonomia e emancipação por meio de um trabalho solidário e cooperativo voltado ao artesanato. Atualmente, com essa mesma missão, cerca de 30 Cooperadas e um cooperado participam das atividades, oficinas e cursos. - “O foco é empoderar mulheres mas os homens que queiram participar dos trabalhos são bem-vindos, pois queremos expandir a Cooperativa cada vez mais.” diz Celma
A infraestrutura da instituição possui um salão coberto, uma sala de costura, uma sala onde funciona o uma estação digital com onze computadores para aulas de informática e acesso à internet, dois banheiros e uma cozinha. A presidente comemora as conquistas. “Nós classificamos a Bordana como um negócio social, que através do cooperativismo está incluindo mulheres, resgatando a cultura do bordado manual, com enfoque na geração de renda. Aqui as cooperadas aprendem uma profissão, melhoram a renda e convivem coletivamente.” afirma

Economia Solidária

A produção da Bordana abrange itens exclusivos inspirados no Cerrado como panos de prato, capas de almofadas, sachês, chaveiros, bolsas, batas e colchas. A Cooperativa está centrada na economia solidária. De acordo com dados do Ministério do Trabalho (MTE), nesse tipo de economia, os empreendimentos são baseados na agregação dos recursos de que cada cooperado dispõe.
Como a Cooperativa funciona em regime de autogestão, ou seja, independe de verbas dos setores público e privado, a frase “Mãos que se unem em linhas que se cruzam”, norteia a rotina das bordadeiras, já que todo o capital da Bordana é adquirido por meio dos produtos vendidos. Uma parte dos lucros é usada para comprar os materiais necessários a produção, como linhas e panos, por exemplo, e a outra parte do dinheiro é dividida igualmente entre as cooperadas.
Celma explica que a comercialização dos produtos exige esforço e dedicação para superar possíveis adversidades. “A Cooperativa se sustenta com as vendas, mas nós temos dificuldades de comercialização. Apesar de expormos os produtos na Feira do Cerrado precisamos de mais espaços, pois nós não temos capital de giro para pagar todo mundo durante a produção, a cooperada só recebe pelo produto depois de vendê-lo. Essa é uma das dificuldades que enfrentamos.” afirma


Incubadora Social

A orientação técnica para a organização da Bordana enquanto cooperativa concretizou-se  a partir do apoio da Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio do programa Incubadora Social, cujo o objetivo consiste em fornecer subsídios para o desenvolvimento de empreendimentos solidários.
Segundo informações publicadas na página oficial do programa na internet (www.incubadorasocial.ufg.br), a Incubadora Social foi implantada em 2007, por iniciativa da Pró-Reitoria de extensão e Cultura da UFG. A priori a inciativa incluía apenas grupos de catadores de material reciclável, como a Associação dos Catadores Ordem e Progresso – ACOP, e a Associação de Materiais Recicláveis Beija Flor.

A partir de 2008, parcerias de financiamento com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) e com o Ministério Público de Goiás, possibilitaram a entrada de outros grupos na Incubadora. Desde então, a Incubadora tem atendido cooperativas como a Bordana com a missão de promover o desenvolvimento socioeconômico e a cidadania.

Ouça o áudio da reportagem aqui

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