Comecemos
nosso post de hoje com um pequeno vídeo. Assista!
Assistiu?
A cena que você acabou de ver faz parte do filme “Sob o Sol da Toscana”, de
2003. Nela, Francis, personagem de Diane Lane, é seguida por homens pelas
vielas de Roma, enquanto procurava uma loja de antiguidades. Apenas para
esclarecer: no longa, a protagonista é uma escritora americana que decidiu
viajar pela Itália após o traumático divórcio. Ao ver o anúncio de uma casa à
venda na região de Cortona, decide comprá-la e se mudar para lá. Ah mas, qual o
problema? Os italianos são assim mesmo, charmosos e cortejadores, não é verdade?
Pois
bem, Francis é uma personagem cinematográfica. Maria Jose Coni e Marina
Menegazzo, não. As turistas argentinas foram mortas em março deste ano durante
um mochilão pelo Equador, mais precisamente em Montañita, por dois homens que
confessaram os assassinatos. O crime levantou calorosos debates a respeito do
machismo e da violência contra mulheres, além da exposição das duas como “vítimas
em potencial” pois, ao embarcarem “desacompanhadas”, assumiram o risco de
sofrer algum tipo de agressão.
Certo
mas, qual a relação entre a escritora romântica e as viajantes da vida real? Os
riscos (absurdos, diga-se de passagem) que uma mulher corre ao viajar sozinha. No
primeiro caso, há o hábito grotesco de romantizar o assédio, tornando-o quase
como uma cultura masculina em certos países. Na tragédia envolvendo as jovens,
a culpabilização da vítima, algo que já virou rotineiro em casos de violência
contra a mulher ou o feminicídio, como se o “certo” fosse que as mulheres se trancassem
em suas cidades e só saíssem delas em companhias masculinas.
O
que, de fato, também não as resguarda de qualquer agressão. Em dezembro do ano
passado, uma turista alemã foi assaltada e estuprada durante um passeio pelas
dunas de Jericoacoara, destino cearense conhecido por seus cenários paradisíacos.
A moça, que não foi identificada, relatou que, na madrugada do crime, estava
acompanhada pelo amigo austríaco que, além de não intimidar o agressor, ainda não
conseguiu impedi-lo. Diante disso, podemos afirmar que o problema vai muito
além do simples fato de estar, ou não, ao lado de uma presença masculina.
A
estudante goianiense Renata Cursino tem o hábito de viajar sozinha ou entre
amigas e já passou por momentos muito parecidos ao de Francis. Ela chama a
atenção para a ocasião em que, durante uma viagem para Curitiba com uma amiga, ambas
foram seguidas durante a noite, na saída de uma boate, por homens que desciam a
rua de carro. As duas precisaram se dirigir a uma viatura policial parada em
uma praça para se desvencilhar dos assediadores. Situação semelhante ocorreu,
novamente, em Florianópolis, desta vez, dentro de uma badalada casa noturna.
Arquivo Pessoal |
Arquivo Pessoal |
“Acho
que é mais sobre esse estigma atrelado à mulher que viaja sem a companhia
masculina de que ela está sempre disponível. E não há o respeito pela mulher e,
sim, pela figura masculina, e não a mulher como ser humano”, opina a jovem. Ela
reforça que, ao viajar em grupo de amigos que incluem homens, as mesmas situações
não ocorrem. Essa impressão foi exposta por Catalina Ruiz Navarro, em sua
coluna no El Espectador, na ocasião da tragédia envolvendo Maria e Marina. Ela e
milhões de internautas se revoltam com a desigual liberdade de ir e vir entre
homens e mulheres.
De
acordo com especialistas da área, os destinos mais procurados por viajantes
femininas são o litoral brasileiro, América do Sul e Europa. Junto com as
indicações de roteiro, vêm as recomendações. Cláudia Portes, consultora de
viagens, recomenda o maior número de informações atualizadas sobre a região a
ser visitada. Patrícia Freitas, também profissional do Turismo, completa que,
independente do gênero, ao viajar sozinho, o turista precisa ser descolado e
dominar algum idioma além do nativo, além de evitar países em zonas de conflito
ou em períodos de extremismo.
Como
profissionais, as dicas. Como mulheres – e mães, a mesma insegurança. Claudia,
por exemplo, não embarca sozinha, mesmo em viagens curtas. “Sozinha não, e nem pretendo. Com amigas
sim, sem nenhum problema”, afirma ela, categórica. Com relação às
filhas, a agente de viagens diz que, infelizmente, sua maior insegurança reside
nos destinos nacionais. “Tive oportunidade de minhas filhas viajarem no Brasil
e para fora, sempre me preocupei muito mais com elas no Brasil , devido a insegurança”.
Assim como a colega de profissão, Patrícia também
não vê problemas em viajar entre amigas, mas, não acha interessante traçar um
roteiro solo. No entanto, precisa orientar a filha única em suas viagens. A jovem
tem larga experiência em desbravar o mundo sozinha, inclusive vivenciando
intercâmbio em continente europeu. Apesar dos temores maternos naturais, a
consultora nunca a impediu de seguir seu caminho. “Apoio com o coração
apertado, coisas de mãe e, também, porque ela concorda que em alguns países ela
não iria sozinha”.
Apesar de relatos e riscos, infelizmente reais,
as mulheres continuam viajando sozinhas. E não poderia ser diferente. Por isso,
é tão importante o movimento feminista, que busca o empoderamento das mulheres
em suas atividades rotineiras que incluem, obviamente, o direito de viajar. As mulheres
não podem, nem devem se resignar mas, do contrario, precisam continuar a
mostrar aos homens e ao mundo que não são um alvo fácil. E que a culpa de um
assédio, de uma agressão não é, nem nunca será, culpa da vítima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário