A agricultura familiar é desenvolvida
através da gestão compartilhada pela família, sendo a atividade produtiva a
principal fonte geradora de renda. A partir daí, o agricultor possui
relacionamento particular com a terra, pois ela é seu lar e, ao mesmo tempo,
local de trabalho. Em sua 15ª edição, a Agro Centro-Oeste Familiar 2017
aproximou o produtor do consumidor e empresas do ramo, além de promover a
divulgação de estudos científicos, debates e palestras sobre a importância do
tema para o país. As atividades da feira se concentraram nas dependências do
Centro de Eventos da Universidade Federal de Goiás (UFG), no Campus Samambaia,
de 7 a 10 de junho.
Ao longo da programação, o visitante teve acesso minicursos,
mesas redondas, oficinas, palestras, workshops e rodas de conversa que abordaram toda
uma gama de assuntos inseridos na temática da agricultura familiar, incluindo
culinária com frutos do Cerrado, acidentes com animais peçonhentos, manejo
sustentável, política agrícola para agricultores familiares, além do acesso aos
programas e financiamentos destinados ao Primeiro Setor. O evento também abriu
espaço para manifestações culturais, exposições acadêmicas e para a venda da
produção oriunda das caravanas convidadas, provenientes de diversos municípios
goianos. Dentre elas estavam cooperativas, assentamentos e comunidades
quilombolas.
Caravanas
A Associação Quilombola de Professor Jamil – Comunidade Boa
Nova, presidida por Luzia Cristina do Carmo, abriga cerca de 100 famílias e, na
feira, expôs sua produção de artesanato, com destaque para as tecelagens de
macramê (fios tecidos a mão). Líder e militante ativa, Luzia explicou que a
associação, criada graças ao incentivo do Pronatec, possibilita que as mulheres
quilombolas ganhem sua independência financeira, através da capacitação trazida
pelos vários cursos ofertados. Atuando nas melhorias sociais constantes da
comunidade, ela contou com orgulho, como conseguiu erradicar a prostituição na
região. "Antes as moças ficavam na rodovia que corta a cidade, hoje estão
todas em salas de aula".A intenção de Luzia é promover, ainda mais, a
cultura do local, por meio de atividades como rádio comunitária, por exemplo.
A 40 km de Professor Jamil e 88 km de
Goiânia, o município de Piracanjuba abriga a Associação Quilombola Ana Laura,
que também expôs telas, doces e tiaras produzidas pelas mulheres da comunidade.
A presidente Lucy Helena Roza contou que a associação foi fundada há quatro
anos e comentou a importância da agricultura familiar, além da própria
existência da associação para as 150 famílias cadastradas. Famílias estas que,
inclusive, recebem apoio de projetos de extensão da Faculdade de Nutrição
(Fanut) e Escola de Agronomia (EA). Por meio de cursos de capacitação, reuniões
mensais e oficinas, homens, mulheres e jovens tornam-se, também, independentes
economicamente.
Lucy, no entanto, ressalta que a vida
na comunidade não são apenas flores. Artista plástica autodidata, a mulher
conta que enfrenta vários obstáculos no cotidiano. No momento, por exemplo,
está passando por dificuldades relacionadas a um terreno cedido pela gestão municipal
anterior que não é reconhecido pela atual. “O prefeito é meu amigo de infância,
simplesmente, argumenta que não foi ele quem cedeu a área, portanto, não é
responsabilidade dele manter”, conta. O local dá espaço para uma plantação de
milho feita pela comunidade. Segundo Lucy, o prefeito pretende vende-lo para
uma construtora. “Ele fala que o terreno é do IBAMA, que nega, então, pedimos
ajuda ao INCRA para tentar resolver essa situação”, detalha a líder.
As cooperativas presentes também votam a favor desse tipo de
evento como ferramenta de divulgação da agricultura familiar. A Cooper Agro, de
Niquelândia, reúne 180 famílias, incluindo assentamentos da região e, para a
feira, levou licores, quitandas e doces de produção própria. Cirino
Vicente Ferreira, presidente da cooperativa, disse que a adesão aos itens
é tão grande que chegou ao exterior. "Estamos exportando nossos licores
para países como Espanha, França e Estados Unidos", comemorou. As
atividades da Cooper Agro, no entanto, não se limitam à produção,
mas também a cursos de Agroflorestas (consórcios de culturas agrícolas em
espécies arbóreas utilizadas para restaurar florestas).
Assentamentos levaram, em massa, seus produtos para a Agro
Centro-Oeste, indicando a atividade da agricultura como importante fonte de
renda para as famílias. Sediado em Formosa, o Dom Tomaz de Aquino conquistou os
visitantes com geleias de pimenta, rapaduras de sabores inusitados, pimentas,
conservas, doces e especiarias. Junior, um dos assentados, explicou que a
produção partiu da iniciativa das mulheres da comunidade, em face das
dificuldades enfrentadas em razão da falta de estrutura do assentamento.
Associada à plantação de hortas orgânicas, a venda dos produtos representa a
subsistência das famílias.
Isso porque, de acordo com Junior, não tiveram
outra escolha. O Dom Tomaz de Aquino pertencia a um grupo de assentados
alocados em Corumbá de Goiás. Lá, as famílias gozavam de boa estrutura,
incluindo rádios comunitárias desenvolvidas com o auxílio de alunos e professores
da Faculdade de Informação de Comunicação da Universidade Federal de Goiás
(FIC/Ufg). Porém, cedendo a pressões externas, o Governo Federal transferiu
parte do assentamento para uma região de Formosa, sob o regime de comodato com
um fazendeiro. No entanto, o proprietário não recebeu dinheiro algum por parte
do Governo e os assentados, transferidos para lá há três anos, não têm
estrutura alguma. “Sem reconhecimento e legalização, não conseguimos crédito
para desenvolver a terra, então, o que nos resta são nossas hortas orgânicas e
os produtos alimentícios que as companheiras vendem”, revela o rapaz.
Serviços
A difusão do conhecimento foi uma das premissas da Agro
Centro-Oeste Familiar. Além das diversas atividades cientificas, palestras e
mesas-redondas, o visitante teve acesso à assistência social, máquinas
agrícolas, serviços e projetos. Divididos em tendas, os espaços
abrigaram produtos úteis ao produtor, bem como aqueles que são fabricados
de maneira sustentável. Como exemplo, os itens que têm o bambu como
matéria-prima, com destaque para a Ecobike,
bicicleta construída com o material, além das mesas de cultivo que utilizam a
hidroponia, sistema de plantio caracterizado por substituir a terra por água,
com o auxílio do bombeamento por pequenos motores.
No espaço da Fazendinha, o público teve contato com animais
típicos do meio rural (vacas, galinhas e patos), grupos de pesquisa das
unidades acadêmicas da UFG e projetos apoiados pela prefeitura de Goiânia, como
a Horta Escolar – Laboratório a Céu Aberto. Manifestações culturais abriram
caminho, representados por apresentações de congadas, Folias de Reis, corais e
grupos de dança infantis. Para quem não conhecia, a receita do tradicional
empadão goiano foi transmitida de modo diferente, em forma de canção, pelo
Coral Canta Criança, da Escola Municipal Pedro Ciríaco de Oliveira.
Créditos das imagens: Carlos Siqueira (Ascom UFG)
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